O Vineland Adaptive Behavior Scales – Third Edition (Vineland-3): Estudos de Validade e Aplicações
Introdução
O Vineland Adaptive Behavior Scales – Third Edition (Vineland-3) é um dos instrumentos mais amplamente utilizados para avaliar o comportamento adaptativo, compreendendo as habilidades que os indivíduos usam em suas atividades diárias para atender às demandas pessoais e sociais. Desenvolvido originalmente por Edgar Doll em 1935, o Vineland evoluiu ao longo do tempo, passando por revisões significativas, resultando na terceira edição publicada em 2016 (Sparrow, Cicchetti, & Saulnier, 2016). O Vineland-3 é utilizado em diversas áreas, como educação especial, psicologia, psiquiatria e pesquisa, sendo fundamental na avaliação de indivíduos com condições como Transtorno do Espectro Autista (TEA), deficiência intelectual e outras dificuldades de desenvolvimento.
The Vineland Adaptive Behavior Scales – Third Edition (Vineland-3) is one of the most widely used instruments to assess adaptive behavior, comprising the skills that individuals use in their daily activities to meet personal and social demands. Originally developed by Edgar Doll in 1935, the Vineland has evolved over time, undergoing significant revisions, resulting in the third edition published in 2016 (Sparrow, Cicchetti, & Saulnier, 2016). The Vineland-3 is used in several areas, such as special education, psychology, psychiatry and research, and is essential in the evaluation of individuals with conditions such as Autism Spectrum Disorder (ASD), intellectual disability and other developmental difficulties.
Este artigo tem como objetivo revisar estudos de validade do Vineland-3 e discutir suas principais aplicações em diferentes contextos.
Estrutura e Avaliação do Vineland-3
O Vineland-3 é composto por cinco domínios principais de comportamento adaptativo: Comunicação, Habilidades de Vida Diária, Socialização, Motor e Comportamentos Mal-adaptativos. Cada um desses domínios é subdividido em áreas mais específicas. A administração do teste pode ser feita em três formas: Entrevista com Informante, Formulário Completo e Formulário de Avaliação de Classe.
As habilidades adaptativas avaliadas pelo Vineland-3 são consideradas essenciais para o desenvolvimento independente e socialmente ajustado. A avaliação cobre uma ampla faixa etária, desde o nascimento até a vida adulta, o que o torna uma ferramenta versátil para uso clínico e educacional.
Estudos de Validade
1. Validade de Construto
A validade de construto do Vineland-3 refere-se à sua capacidade de medir os conceitos teóricos de comportamento adaptativo. Em estudos de validação, análises fatoriais confirmatórias (AFC) têm demonstrado que os domínios do Vineland-3 se agrupam de maneira esperada, confirmando a estrutura teórica subjacente. Estudos com amostras clínicas, como crianças com TEA e deficiência intelectual, também demonstraram que o instrumento consegue diferenciar adequadamente entre grupos com e sem deficiências adaptativas significativas (Perry et al., 2018).
2. Validade de Critério
A validade de critério refere-se à eficácia do Vineland-3 em prever ou correlacionar-se com outras medidas de comportamento adaptativo ou inteligência. O Vineland-3 apresenta correlações fortes com outros instrumentos amplamente utilizados para avaliação de desenvolvimento e comportamento, como o Adaptive Behavior Assessment System (ABAS-3) e o Wechsler Intelligence Scale for Children (WISC-V). Esses resultados sustentam a validade convergente do Vineland-3 (Sparrow et al., 2016).
3. Validade Discriminante
O Vineland-3 tem mostrado excelente validade discriminante, sendo capaz de diferenciar entre populações clínicas e típicas. Em particular, estudos demonstram que crianças com TEA ou outros transtornos do neurodesenvolvimento apresentam escores significativamente mais baixos nos domínios de Socialização e Comunicação, em comparação com seus pares neurotípicos (Paul et al., 2020).
4. Estudos de Fidedignidade
Os estudos de fidedignidade do Vineland-3 também apresentam bons resultados. A consistência interna dos escores dentro de cada domínio é alta (coeficiente alfa de Cronbach > 0,90). Além disso, a estabilidade temporal do instrumento foi testada por meio de estudos de teste-reteste, revelando que os escores permanecem estáveis ao longo do tempo (Sparrow et al., 2016).
Aplicações Clínicas e Educacionais
1. Diagnóstico de Transtornos do Desenvolvimento
O Vineland-3 é amplamente utilizado na avaliação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo uma ferramenta essencial para identificar déficits adaptativos que caracterizam esses transtornos. A avaliação detalhada dos domínios de Socialização e Comunicação permite aos clínicos obter uma compreensão mais profunda das dificuldades adaptativas de cada indivíduo, informando o diagnóstico e a intervenção.
2. Avaliação de Deficiência Intelectual
Outro uso comum do Vineland-3 é na avaliação de deficiência intelectual. O instrumento auxilia na identificação de déficits significativos em habilidades adaptativas, que são critério diagnóstico para deficiência intelectual de acordo com o DSM-5 (American Psychiatric Association, 2013). Além disso, o Vineland-3 é usado para monitorar o progresso dessas habilidades ao longo do tempo, avaliando o impacto de intervenções educacionais ou terapêuticas.
3. Planejamento de Intervenção
O Vineland-3 é amplamente utilizado em escolas e clínicas para auxiliar no planejamento de intervenções personalizadas. A avaliação dos pontos fortes e fracos em cada domínio permite que educadores e terapeutas desenvolvam planos de ensino individualizados que abordem as áreas de maior necessidade.
4. Pesquisa
O Vineland-3 tem sido amplamente utilizado em estudos de pesquisa para examinar as relações entre comportamento adaptativo e outras variáveis cognitivas e sociais. A sua utilização em estudos longitudinais tem permitido a compreensão do desenvolvimento adaptativo ao longo do tempo e a identificação de fatores que promovem ou prejudicam a adaptação social e funcional.
Limitações e Desafios
Embora o Vineland-3 seja amplamente aceito como uma ferramenta válida e confiável, existem algumas limitações. A primeira é que o instrumento depende do relato de informantes, o que pode introduzir viés de resposta. Além disso, o Vineland-3 pode não capturar adequadamente as complexidades do comportamento adaptativo em populações com perfis atípicos de desenvolvimento, como crianças superdotadas ou com transtornos emocionais graves.
Conclusão
O Vineland-3 é uma ferramenta amplamente validada e de grande utilidade na avaliação do comportamento adaptativo em uma variedade de contextos clínicos e educacionais. Seus sólidos fundamentos teóricos, juntamente com sua validade e confiabilidade demonstradas, o tornam um recurso indispensável para o diagnóstico, planejamento de intervenções e pesquisa. No entanto, é importante que os profissionais considerem as limitações do instrumento e complementem sua avaliação com outras fontes de informação para obter uma compreensão completa das habilidades adaptativas de um indivíduo.
Referências
- American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.).
- Perry, A., Flanagan, H. E., Dunn Geier, J., & Freeman, N. L. (2018). Brief report: The Vineland Adaptive Behavior Scales in young children with Autism Spectrum Disorders. Journal of Autism and Developmental Disorders, 49(3), 1329-1334.
- Paul, R., Loomis, R., & Chawarska, K. (2020). Adaptive behavior in toddlers under two with Autism Spectrum Disorders. Journal of Autism and Developmental Disorders, 50(2), 347-360.
- Sparrow, S. S., Cicchetti, D. V., & Saulnier, C. A. (2016). Vineland Adaptive Behavior Scales, Third Edition (Vineland-3). Pearson.
Ricardo Santana, Neuropsicólogo, CRP15 0190, (82)99988.3001, Maceió/AL
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