Desregulação emocional

 


A desregulação emocional refere-se a uma dificuldade persistente em identificar, controlar e expressar emoções de forma adequada. Esse fenômeno não é apenas uma característica isolada, mas frequentemente está presente como um componente central em diversos transtornos mentais. Pessoas com desregulação emocional podem experimentar emoções intensas e desproporcionais em relação aos eventos que enfrentam, o que impacta negativamente sua capacidade de lidar com situações cotidianas, relacionamentos e desempenho em várias áreas da vida.


Entre os transtornos mentais em que a desregulação emocional é mais evidente, destaca-se o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). Esse transtorno é caracterizado por instabilidade emocional extrema, impulsividade e dificuldade em manter relações interpessoais estáveis. Indivíduos com TPB frequentemente passam de estados emocionais de euforia para desespero em questão de minutos ou horas, e podem demonstrar comportamentos autodestrutivos, como automutilação, abuso de substâncias ou tentativas de suicídio, como forma de aliviar a intensidade emocional.


Outro transtorno onde a desregulação emocional é comum é o Transtorno Bipolar, especialmente nos episódios de mania e depressão. Durante a mania, a dificuldade em regular as emoções pode levar a comportamentos impulsivos e arriscados, como gastos excessivos, promiscuidade ou confrontos agressivos. Já nos períodos depressivos, a regulação emocional prejudicada contribui para sentimentos de desesperança, inutilidade e até para o isolamento social.


O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) também está associado à desregulação emocional. Indivíduos que vivenciaram traumas significativos frequentemente apresentam hipervigilância e reatividade emocional exagerada, o que pode resultar em explosões de raiva, episódios de pânico ou comportamentos evitativos extremos. Essa dificuldade em processar e regular emoções é amplificada por memórias intrusivas e flashbacks do trauma.


No caso do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), a desregulação emocional pode se manifestar na forma de irritabilidade, frustração frequente e baixa tolerância a atrasos ou mudanças inesperadas. Esses indivíduos podem ter dificuldade em retornar a um estado emocional equilibrado após uma experiência negativa, o que pode interferir em seus relacionamentos e desempenho acadêmico ou profissional.


Além disso, o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e os transtornos depressivos frequentemente apresentam desregulação emocional, embora de maneiras distintas. No TAG, a emoção predominante é a ansiedade, que frequentemente sai de controle e domina o pensamento e o comportamento da pessoa. Já nos transtornos depressivos, emoções como tristeza e desesperança tornam-se difíceis de regular, contribuindo para um ciclo de ruminação e retraimento social.


Comportamentos decorrentes da desregulação emocional são variados, mas muitas vezes incluem explosões de raiva desproporcionais, choro frequente e aparentemente inexplicável, impulsividade, comportamentos autolesivos, dificuldade em tomar decisões e até problemas físicos relacionados ao estresse crônico, como dores de cabeça ou tensão muscular. Em contextos sociais, essa dificuldade pode levar ao isolamento, conflitos interpessoais ou à percepção de que a pessoa é “difícil” ou imprevisível.


Do ponto de vista neuropsicológico, a desregulação emocional está frequentemente associada a disfunções no sistema límbico, particularmente na amígdala, que regula respostas emocionais, e no córtex pré-frontal, responsável pelo controle dessas respostas. Em muitos casos, intervenções terapêuticas, como a Terapia Comportamental Dialética (TCD), são especialmente eficazes, ajudando indivíduos a desenvolver habilidades de regulação emocional e estratégias para lidar com emoções intensas. Assim, compreender e tratar a desregulação emocional é essencial para melhorar a qualidade de vida de quem enfrenta esses desafios.

Ricardo Santana, Neuropsicólogo, CRP15 0180 (82)99988.3001, Maceió/AL

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