A dificuldade de contato no TEA
Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) frequentemente apresentam dificuldade de contato físico, um comportamento que pode ser compreendido a partir de várias perspectivas. O TEA é um distúrbio do desenvolvimento neurológico caracterizado por desafios na comunicação social, comportamentos repetitivos e interesses restritos. Dentro desse espectro, a sensibilidade sensorial desempenha um papel significativo, influenciando como os indivíduos percebem e reagem ao mundo ao seu redor, incluindo o toque.
Primeiramente, é importante entender que muitas pessoas com TEA possuem uma hipersensibilidade sensorial. Isso significa que elas podem sentir estímulos táteis, visuais ou auditivos de maneira muito mais intensa do que pessoas neurotípicas. Um toque leve ou um abraço, que podem ser gestos confortantes para a maioria das pessoas, podem ser percebidos como dolorosos ou extremamente desconfortáveis para alguém com TEA. Essa hipersensibilidade pode gerar uma aversão ao contato físico, levando-os a evitá-lo sempre que possível.
Além da hipersensibilidade, existe a hipossensibilidade, que é menos comum, mas também pode ocorrer. Nesse caso, o indivíduo pode ter uma percepção reduzida do toque e buscar estímulos sensoriais mais intensos. Embora isso pareça contradizer a aversão ao toque, esses indivíduos podem preferir estímulos que eles podem controlar, como apertar objetos ou se balançar, ao invés de receber um toque inesperado ou não solicitado de outra pessoa.
Outro fator relevante é a dificuldade de processamento sensorial. Pessoas com TEA frequentemente têm problemas para integrar e interpretar informações sensoriais de maneira coerente. Isso pode tornar o toque físico algo confuso e perturbador, pois o cérebro pode não processar essa sensação de forma eficiente. Esse processamento sensorial atípico pode resultar em respostas exageradas ao toque, contribuindo para a evitação de contatos físicos.
A interação social também é um aspecto crítico. A comunicação não verbal, que inclui o toque, é uma área onde muitos indivíduos com TEA enfrentam dificuldades. Eles podem não compreender o significado social e emocional do toque, como um abraço ou um aperto de mão, que para outros transmite afeto, consolo ou congratulação. Essa falta de compreensão pode levar a desconforto ou ansiedade em situações que envolvem contato físico.
Ansiedade social e experiências negativas passadas também desempenham um papel crucial. Muitas pessoas com TEA têm altos níveis de ansiedade em situações sociais. Se o contato físico foi associado a experiências negativas, como dor, sobrecarga sensorial ou mal-entendidos sociais, o indivíduo pode desenvolver uma aversão mais forte ao toque. Essa ansiedade pode ser exacerbada pela dificuldade em prever quando o contato físico ocorrerá e como reagir adequadamente a ele.
Além disso, há uma componente de autodeterminação e controle pessoal. Indivíduos com TEA frequentemente têm um forte desejo de controlar seu ambiente para se sentirem seguros e confortáveis. O toque físico, especialmente quando inesperado, pode representar uma perda de controle, desencadeando sentimentos de vulnerabilidade e desconforto.
A compreensão desses fatores é crucial para a criação de ambientes inclusivos e de apoio para pessoas com TEA. Pais, educadores e cuidadores podem ajudar respeitando as preferências individuais de cada pessoa em relação ao contato físico e buscando maneiras alternativas de comunicação e interação que sejam confortáveis para elas. Terapias ocupacionais e abordagens sensoriais também podem ser benéficas para ajudar indivíduos com TEA a gerenciar suas sensibilidades e desenvolver estratégias para lidar com o toque de maneira mais positiva.
A dificuldade de contato físico apresentada por pessoas com TEA é multifacetada, envolvendo hipersensibilidade sensorial, dificuldades de processamento, desafios na comunicação social, ansiedade e a necessidade de controle pessoal. Compreender e respeitar essas complexidades é fundamental para apoiar e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.
Ricardo Santana, Neuropsicólogo, CRP15 0190, (82)99988.3001, Maceió/AL
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