Um plano de orientações terapêuticas para adultos com TDAH

 


Um plano de orientações terapêuticas para adultos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) deve ser individualizado, considerando as necessidades e desafios específicos de cada paciente. O tratamento do TDAH em adultos pode envolver uma combinação de intervenções farmacológicas, comportamentais e psicoeducacionais. Abaixo, elaborei um plano geral que pode ser ajustado conforme o caso.

1. Avaliação Inicial e Acompanhamento

   - Objetivo: Avaliar o grau de comprometimento nas áreas de atenção, hiperatividade e impulsividade, além de identificar comorbidades (ansiedade, depressão, etc.).

   - Instrumentos: Entrevista clínica, escalas de avaliação, questionários de autopercepção e, quando necessário, avaliação neuropsicológica.

   - Frequência de acompanhamento: Consultas quinzenais ou mensais, ajustando de acordo com a resposta ao tratamento.

2. Intervenção Medicamentosa

   - Psicoestimulantes: Medicamentos como metilfenidato (Ritalina, Concerta) ou anfetaminas (Venvanse) são considerados de primeira linha.

   - Não-psicoestimulantes: Atomoxetina, bupropiona ou outros antidepressivos podem ser indicados quando psicoestimulantes não são adequados ou causam efeitos colaterais indesejados.

   - Monitoramento de efeitos colaterais: Acompanhamento contínuo dos efeitos adversos (insônia, perda de apetite, taquicardia, etc.) e ajuste da medicação conforme necessário.

3. Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

   - Objetivo: Ensinar estratégias para gerenciar a desatenção, impulsividade e dificuldades com organização.

   - Técnicas:

     - Treinamento de habilidades de organização e gerenciamento de tempo: Uso de listas, calendários, lembretes e estabelecimento de rotinas.

     - Técnicas de resolução de problemas: Desenvolver habilidades de planejamento e tomada de decisões.

     - Reestruturação cognitiva: Trabalhar em padrões de pensamento negativos e autocríticos que exacerbam os sintomas do TDAH.

     - Mindfulness: Promover a atenção plena para ajudar no controle da impulsividade e melhorar a concentração.

4. Educação e Psicoeducação

   - Objetivo: Aumentar a compreensão do paciente sobre o TDAH e suas implicações.

   - Conteúdos abordados:

     - O que é o TDAH em adultos (diferente da manifestação na infância).

     - Impactos na vida cotidiana, relações interpessoais e trabalho.

     - Importância da adesão ao tratamento e manejo de expectativas.

     - Estratégias para minimizar o impacto nas áreas de maior dificuldade (trabalho, vida social).

5. Modificações Ambientais e Organizacionais

   - Ambiente de trabalho:

     - Organização do espaço: Minimizar distrações, manter a mesa organizada, utilizar fones de ouvido com som ambiente se necessário.

     - Gerenciamento de tarefas: Dividir grandes projetos em partes menores e priorizar tarefas.

   - Vida pessoal:

     - Rotinas estruturadas: Estabelecer horários fixos para atividades diárias como refeições, exercícios, sono.

     - Uso de tecnologias: Aplicativos de produtividade e lembretes digitais podem ser úteis.

6. Terapia de Suporte Social e Familiar

   - Objetivo: Melhorar a comunicação e o suporte emocional para o paciente.

   - Orientação para parceiros e familiares: Oferecer informações sobre o transtorno e sobre como apoiar o paciente de maneira prática, sem gerar frustração ou tensão.

   - Grupos de apoio: Recomendar a participação em grupos de apoio para troca de experiências e estratégias de manejo.

7. Treinamento em Habilidades Sociais

   - Objetivo: Desenvolver a capacidade de lidar com situações sociais, controlar impulsos verbais e melhorar a comunicação interpessoal.

   - Atividades: Simulações de situações reais, prática de habilidades de comunicação assertiva e escuta ativa.

8. Atividades Físicas e Estilo de Vida Saudável

   - Exercícios físicos: Recomendar atividade física regular para ajudar a melhorar o foco e reduzir a hiperatividade.

   - Alimentação equilibrada: Sugerir uma dieta balanceada e evitar alimentos que possam piorar a desatenção, como açúcar refinado e cafeína em excesso.

   - Higiene do sono: Trabalhar na criação de uma rotina de sono adequada para reduzir insônia ou outros problemas relacionados ao sono.

9. Manejo de Comorbidades

   - Identificar e tratar comorbidades, como ansiedade, depressão, transtornos de humor ou uso abusivo de substâncias, que podem agravar os sintomas do TDAH.

   - Adotar uma abordagem integrada, envolvendo psiquiatra, psicólogo e, se necessário, outros profissionais de saúde.

10. Avaliação Contínua e Ajustes

   - Revisão periódica do plano de tratamento com base nos progressos observados.

   - Ajustar a medicação, técnicas terapêuticas ou abordagens conforme a evolução dos sintomas.

Conclusão

Este plano deve ser flexível, levando em consideração a resposta do paciente ao tratamento, suas preferências e os desafios diários enfrentados. O sucesso terapêutico depende de uma abordagem multidisciplinar e da participação ativa do paciente no processo de autocuidado e gerenciamento do TDAH.

Ricardo Santana, Neuropsicólogo, CRP15 0190, (82)99988.3001, Maceió/AL

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