A relação entre altas habilidades e o Quociente de Inteligência (QI)
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Historicamente, os primeiros testes de identificação de indivíduos superdotados focaram principalmente em altas pontuações em testes de QI. Lewis Terman, psicólogo pioneiro no estudo da superdotação, contribuiu para um estudo de longo prazo com crianças que apresentavam pontuações de QI superiores, geralmente acima de 130. A pesquisa de Terman ajudou a consolidar a associação entre superdotação e alta inteligência medida por QI. Durante anos, essa abordagem foi a norma. No entanto, com o tempo, pesquisadores e educadores começaram a perceber que esses títulos eram limitados e deixavam de fora uma ampla gama de indivíduos com talentos especializados em áreas que o QI, por si só, não captava melhor.
O QI é uma medida útil para avaliar habilidades cognitivas específicas, como raciocínio lógico, memória de curto prazo, resolução de problemas e processamento de informações. No entanto, as altas habilidades não se restringem apenas a essas áreas. A superdotação pode se manifestar em uma variedade de domínios, incluindo criatividade, artísticas, liderança, competências sociais, ou até mesmo na capacidade motora. Um indivíduo com altas habilidades musicais, por exemplo, pode não apresentar um QI elevado, mas ainda assim demonstrar um desempenho excepcional na área de composição, execução ou interpretação musical.
Um dos modelos mais influentes que expandiu a compreensão da superdotação foi o Modelo dos Três Anéis, de Joseph Renzulli. Ele argumentou que a superdotação é o resultado da interação de três fatores: uma habilidade acima da média, altos níveis de criatividade e um forte comprometimento com a tarefa. Nesse modelo, a habilidade acima da média é um aspecto necessário, mas não suficiente para caracterizar uma pessoa como superdotada. A criatividade, a capacidade de pensar de forma original e inovadora, assim como a dedicação e motivação para persistir em um projeto ou área de interesse, são elementos igualmente importantes.
Essa visão mais ampla coloca o QI como uma das muitas facetas que podem contribuir para altas habilidades, mas não como o único ou mesmo os principais classificações. Em alguns casos, indivíduos com um QI considerado apenas moderadamente alto, na faixa de 120-130, podem demonstrar desempenho excepcional em certas áreas devido à sua motivação, perseverança e criatividade. Isso demonstra que a superdotação é uma aparência multifacetada, onde o QI elevado é apenas uma peça do quebra-cabeça.
Outro ponto importante a considerar é a diversidade de perfis dentro do grupo de superdotados. Existem indivíduos conhecidos como "superdotados globais", que possuem altas habilidades em diversas áreas, como linguagem, matemática e ciências. Nesse caso, o QI elevado tende a ser uma característica comum, pois suas habilidades intelectuais abrangem diversos campos. No entanto, existem também os "superdotados parciais" ou "talentos específicos", que possuem habilidades exclusivas em uma única área. Para esses indivíduos, o QI global pode não refletir sua capacidade em uma área específica, como habilidades artísticas ou esportivas.
Além disso, o conceito de “dupla excepcionalidade” desafia ainda mais a relação entre altas habilidades e QI. Indivíduos com dupla excepcionalidade são aqueles que possuem altas habilidades em alguma área, mas também apresentam algum tipo de transtorno de desenvolvimento ou dificuldade de aprendizagem, como dislexia, TDAH ou transtorno do espectro autista. Essas condições podem interferir nos resultados dos testes de QI tradicionais, subestimando o potencial dessas pessoas. Isso mostra que, embora o QI possa ser um indicativo de certas capacidades, ele não é um reflexo total.
do potencial de um indivíduo, especialmente em casos onde há dificuldades de aprendizagem coexistindo com altas habilidades. Pessoas com dupla excepcionalidade frequentemente têm talentos extraordinários que não podem ser plenamente capturados por uma avaliação de QI, destacando a necessidade de uma avaliação mais holística de suas capacidades.
O campo da psicologia educacional também monitora que o QI, por ser uma medida estática, pode não refletir o crescimento intelectual e o desenvolvimento de habilidades ao longo do tempo. A superdotação, por outro lado, pode ser dinâmica e manifestar-se de formas diferentes em momentos distintos da vida de um indivíduo. Embora o QI seja muitas vezes tratado como algo fixo, o desenvolvimento de altas habilidades pode depender de fatores ambientais, oportunidades de aprendizagem e suporte emocional recebido. Um ambiente enriquecido e estimulante pode ser crucial para que uma criança com potencial elevado desenvolva suas habilidades ao máximo, independentemente do QI.
Além disso, o foco excessivo no QI pode criar estigmas ou expectativas irrealistas. Crianças com QI elevadas são frequentemente vistas como "geniais", o que pode levá-las a pressões sociais e acadêmicas significativas. A cobrança para que essas crianças estejam sempre à frente dos colegas ou que alcancem grandes resultados pode causar ansiedade, estresse e até problemas de autoestima. É importante lembrar que o desenvolvimento emocional e social dessas crianças deve ser tão bem cuidado quanto ao seu desenvolvimento intelectual. O sucesso acadêmico ou profissional não é garantido pelo simples fato de ter um QI elevado, e muitos fatores importantes para o florescimento pleno das altas habilidades.
Em suma, a relação entre altas habilidades e QI é complexa e multifacetada. Embora o QI seja um indicador relevante de capacidades cognitivas, ele não abrange todas as dimensões que definem a superdotação. A criatividade, a motivação e o comprometimento com a tarefa são componentes essenciais que não podem ser avaliados apenas por testes de QI. Além disso, a superdotação pode se manifestar em áreas que vão além do QI tradicional disponível, como habilidades artísticas, liderança ou talentos motores. Portanto, é necessário adotar uma visão mais ampla e inclusiva para identificar e apoiar indivíduos com altas habilidades, considerando tanto o QI quanto outras qualidades igualmente importantes para o seu desenvolvimento pleno.
Ricardo Santana, Neuropsicólogo, CRP15 0190, (82)99988.3001, Maceió/AL
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