Problemas provocados pelo TDAH não tratado

 

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurodesenvolvimento que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, com início na infância, mas frequentemente persistindo na vida adulta. Caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, o TDAH pode ter impactos significativos e duradouros na vida de quem é diagnosticado. Esses sintomas não apenas interferem no funcionamento cotidiano, mas também podem levar a graves prejuízos funcionais e riscos à vida, caso não sejam adequadamente tratados e gerenciados.

Um dos principais sintomas do TDAH é a desatenção, que se manifesta por dificuldades em manter o foco em tarefas, esquecer compromissos, e cometer erros por descuido em atividades escolares, profissionais ou cotidianas. Crianças com TDAH, por exemplo, frequentemente têm dificuldades na escola, não apenas porque não conseguem prestar atenção nas aulas, mas também porque esquecem de fazer tarefas ou perdem materiais escolares. Esse quadro pode levar a um baixo desempenho acadêmico, resultando em frustração, baixa autoestima e um risco aumentado de abandono escolar. Em adultos, a desatenção pode prejudicar o desempenho no trabalho, resultando em dificuldade para manter um emprego ou alcançar o sucesso profissional.

A hiperatividade, outro sintoma central do TDAH, manifesta-se como inquietação, dificuldade em permanecer sentado, e uma constante necessidade de movimento. Em crianças, isso pode se traduzir em comportamentos disruptivos na sala de aula, como levantar-se repetidamente, correr em momentos inadequados ou falar excessivamente. Esses comportamentos não apenas dificultam o aprendizado, mas também podem gerar conflitos com professores e colegas, exacerbando o isolamento social e a sensação de inadequação. Em adultos, a hiperatividade pode se apresentar como uma inquietação interna, a necessidade constante de estar ocupado ou uma incapacidade de relaxar. Isso pode levar a dificuldades em situações que requerem calma e concentração, prejudicando a capacidade de participar de reuniões, estudar ou realizar atividades que demandam um maior controle emocional.

A impulsividade, por sua vez, é um dos aspectos mais perigosos do TDAH. Esse sintoma pode se manifestar como dificuldades em esperar a própria vez, interrupções frequentes em conversas, e a tomada de decisões precipitadas sem considerar as consequências. Em crianças, a impulsividade pode levar a acidentes, como correr para a rua sem olhar ou se envolver em brigas. Em adolescentes e adultos, essa característica pode ter consequências ainda mais sérias, incluindo envolvimento em comportamentos de risco, como uso de substâncias, direção imprudente ou práticas sexuais de risco. A impulsividade associada ao TDAH também pode resultar em decisões financeiras precipitadas, como gastos excessivos ou investimentos arriscados, que podem levar a graves problemas financeiros e, em casos extremos, à falência.

Os prejuízos funcionais causados pelo TDAH são vastos e abrangem várias áreas da vida. No campo acadêmico, crianças e adolescentes com TDAH enfrentam dificuldades que vão além das notas baixas; eles podem sofrer com a estigmatização por parte de colegas e professores, o que pode gerar um ciclo de fracasso e desmotivação. Sem intervenção, esses jovens estão em maior risco de desenvolver outros transtornos mentais, como ansiedade e depressão, que podem agravar ainda mais as dificuldades acadêmicas e sociais. Na vida adulta, os prejuízos acadêmicos não resolvidos podem se traduzir em dificuldades para ingressar ou completar o ensino superior, limitando as oportunidades de carreira e perpetuando o ciclo de dificuldades socioeconômicas.

Além disso, o impacto social do TDAH é significativo. A dificuldade em manter relacionamentos estáveis, seja com amigos, parceiros românticos ou colegas de trabalho, é uma consequência comum dos sintomas do TDAH. A impulsividade pode levar a discussões frequentes, enquanto a desatenção pode ser interpretada como desinteresse ou negligência, causando mal-entendidos e ressentimentos. Em relacionamentos amorosos, isso pode se traduzir em altos índices de divórcio ou separação. No ambiente de trabalho, a incapacidade de cumprir prazos, esquecer compromissos importantes ou se envolver em conflitos pode levar a demissões e dificuldades em manter uma carreira estável.

O TDAH também está associado a um risco aumentado de comorbidades, como transtornos de humor, transtornos de ansiedade, abuso de substâncias e transtornos de conduta. Essas comorbidades não só complicam o quadro clínico, tornando o tratamento mais desafiador, como também aumentam o risco de comportamentos autodestrutivos, como automutilação ou tentativas de suicídio. A impulsividade característica do TDAH pode amplificar esses riscos, pois indivíduos com TDAH podem agir impulsivamente em momentos de crise, sem considerar plenamente as consequências de seus atos.

Um aspecto particularmente preocupante do TDAH é o risco elevado de acidentes e lesões. Estudos mostram que indivíduos com TDAH, especialmente aqueles não tratados, têm uma probabilidade maior de se envolver em acidentes de trânsito, devido à impulsividade e à desatenção. Esses acidentes podem resultar em ferimentos graves ou fatais, tanto para o indivíduo quanto para outras pessoas envolvidas. Além disso, o risco de acidentes domésticos, como quedas ou queimaduras, também é maior em indivíduos com TDAH, especialmente crianças que têm dificuldade em avaliar o perigo de suas ações.

O tratamento inadequado ou a ausência de tratamento para o TDAH pode exacerbar todos esses riscos e prejuízos. Embora existam opções eficazes de tratamento, incluindo medicamentos, terapia comportamental e intervenções educacionais, muitos indivíduos com TDAH não recebem o suporte necessário. A falta de diagnóstico ou o estigma associado ao TDAH pode levar à negligência no tratamento, resultando em um agravamento dos sintomas e um impacto negativo contínuo na vida da pessoa. Em última análise, sem o manejo adequado, o TDAH pode ser um transtorno incapacitante, afetando a qualidade de vida e até colocando a vida do indivíduo em risco.

O TDAH é muito mais do que um simples distúrbio de comportamento; ele é um transtorno complexo que pode ter sérias consequências para a saúde mental, física e social dos indivíduos afetados. O reconhecimento precoce, o diagnóstico preciso e a implementação de um plano de tratamento abrangente são fundamentais para mitigar os graves sintomas e prejuízos funcionais que o TDAH pode provocar, garantindo que as pessoas afetadas possam viver de forma mais plena e segura.

Ricardo Santana, Neuropsicólogo, CRP15 0190, (82)99988.3001, Maceió/AL

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