Ansiedade em Crianças: Um Fenômeno Complexo
A ansiedade infantil é um tema de grande relevância na psicologia, especialmente devido à sua alta prevalência e impacto no desenvolvimento emocional, social e acadêmico das crianças. A ansiedade, em níveis moderados, pode ser uma resposta adaptativa ao ambiente. No entanto, quando se torna excessiva ou persistente, pode levar a prejuízos significativos, configurando transtornos de ansiedade que necessitam de avaliação e intervenção profissional.
Prevalência e Diagnóstico
Os transtornos de ansiedade estão entre os mais comuns em crianças e adolescentes, com uma prevalência global estimada em cerca de 7% (Polanczyk et al., 2015). Entre os transtornos mais comuns estão a ansiedade de separação, a fobia social e o transtorno de ansiedade generalizada (TAG). Para um diagnóstico preciso, é fundamental que o profissional de saúde mental realize uma avaliação psicológica completa, utilizando entrevistas clínicas estruturadas e testes psicológicos validados para o contexto brasileiro. Instrumentos como o Escala de Ansiedade Infantil de Spence (SCAS) e o Inventário de Ansiedade Traço-Estado para Crianças (IDATE-C) são amplamente utilizados e reconhecidos por sua validade e confiabilidade (Higa et al., 2014).
Causas e Fatores de Risco
A ansiedade em crianças é resultado de uma interação complexa entre fatores genéticos, neurobiológicos, ambientais e psicológicos.
1. Fatores Biológicos: Estudos apontam que crianças com temperamento inibido ou com histórico familiar de transtornos de ansiedade têm maior probabilidade de desenvolver sintomas ansiosos (Kagan & Snidman, 2004).
2. Fatores Ambientais: Eventos traumáticos, estilos parentais superprotetores ou críticos, e situações de instabilidade familiar são fatores de risco significativos (Murray et al., 2009).
3. Aspectos Neuropsicológicos: Alterações na função da amígdala e no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) estão associadas a respostas de estresse exacerbadas (Gee et al., 2013).
Sintomas e Impactos
Os sintomas de ansiedade podem se manifestar de diversas formas:
• Sintomas físicos: Dores de cabeça, dores abdominais, sudorese e palpitações.
• Sintomas comportamentais: Evitação de situações sociais, dificuldade em iniciar tarefas e crises de choro frequentes.
• Impactos no desempenho: Crianças ansiosas frequentemente apresentam dificuldades escolares, problemas de socialização e baixa autoestima (Beesdo et al., 2009).
Avaliação Psicológica
A avaliação psicológica é indispensável no processo de identificação da ansiedade infantil. Além de entrevistas com a criança, familiares e professores, o uso de testes psicológicos validados é essencial para garantir precisão diagnóstica e um planejamento terapêutico adequado. Instrumentos como o Teste de Desempenho Escolar (TDE) podem auxiliar na avaliação de possíveis comorbidades relacionadas ao desempenho acadêmico, enquanto a Escala Multidimensional de Ansiedade Infantil (MASC) fornece um panorama detalhado da gravidade dos sintomas ansiosos (Cunha, 2000).
Abordagens de Tratamento
O tratamento da ansiedade infantil deve ser baseado em estratégias individualizadas e fundamentadas em evidências científicas:
1. Psicoterapia: A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a intervenção de primeira escolha para tratar a ansiedade em crianças, com eficácia comprovada em diferentes contextos (Kendall et al., 2005).
2. Intervenções Familiares: Programas que envolvem pais e cuidadores, com foco em estilos parentais mais positivos, têm demonstrado benefícios adicionais (Wood et al., 2006).
3. Intervenção Psicofarmacológica: Em casos graves, pode ser considerada a associação de psicoterapia com medicação, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), sempre sob supervisão médica (Walkup et al., 2008).
Conclusão
A ansiedade em crianças é um fenômeno multifacetado que requer um olhar atento de profissionais qualificados. A avaliação psicológica, com o uso de instrumentos validados, desempenha um papel central no processo diagnóstico e na construção de um plano terapêutico eficaz. A colaboração entre família, escola e profissionais da saúde mental é fundamental para promover um desenvolvimento saudável e minimizar os impactos da ansiedade no bem-estar infantil.
Referências
• Beesdo, K., Knappe, S., & Pine, D. S. (2009). Transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes: Questões de desenvolvimento e implicações para o DSM-V. Revista de Psiquiatria Clínica, 36(1), 42-52.
• Cunha, J. A. (2000). Manual da versão em português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo.
• Gee, D. G., et al. (2013). Uma mudança no desenvolvimento de conectividade positiva para negativa no circuito amígdala-pré-frontal humano. Journal of Neuroscience, 33(10), 4584–4593.
• Higa, C. K., et al. (2014). Escalas para avaliação da ansiedade infantil: Revisão de literatura e recomendações. Psicologia: Teoria e Prática, 16(2), 140-152.
• Kagan, J., & Snidman, N. (2004). Temperamental Inhibition in Childhood. Cambridge, MA: Harvard University Press.
• Kendall, P. C., et al. (2005). Terapia cognitivo-comportamental para transtornos de ansiedade em jovens: Ensaios clínicos randomizados. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 73(3), 491–499.
• Murray, L., Creswell, C., & Cooper, P. J. (2009). O desenvolvimento de transtornos de ansiedade na infância: Revisão integrativa. Psychological Medicine, 39(9), 1413-1423.
• Polanczyk, G. V., et al. (2015). Revisão anual de pesquisa: Uma meta-análise da prevalência mundial de transtornos mentais em crianças e adolescentes. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 56(3), 345-365.
• Walkup, J. T., et al. (2008). Terapia cognitivo-comportamental, sertralina ou combinação no tratamento da ansiedade infantil. New England Journal of Medicine, 359(26), 2753-2766.
• Wood, J. J., et al. (2006). Paternidade e ansiedade infantil: Teoria, achados empíricos e direções futuras. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 47(1), 134-163.
Ricardo Santana, Neuropsicólogo, CRP15 0180 (82)99988.3001, Maceió/AL
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