Características de personalidade comuns em pessoas com TDAH


Pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) frequentemente exibem um conjunto de características de personalidade que transcendem os sintomas nucleares de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Essas características influenciam significativamente suas interações sociais, relacionamentos interpessoais e a construção de sua identidade (Barkley, 2015). É fundamental reconhecer que a manifestação e a intensidade dessas características variam consideravelmente entre indivíduos com TDAH (Brown, 2017).

Uma característica proeminente é a intensidade emocional. Indivíduos com TDAH tendem a vivenciar emoções de maneira mais profunda e com maior reatividade (Antshel et al., 2012). Alegria, tristeza, frustração e raiva podem surgir de forma abrupta e com grande magnitude. Essa labilidade emocional pode ser desgastante tanto para a pessoa com TDAH quanto para seu círculo social (Ratey & Hallowell, 2010). A dificuldade na regulação emocional pode resultar em reações emocionais aparentemente desproporcionais ou em uma sensibilidade acentuada a críticas e rejeições (Miklowitz, 2007).

Intimamente ligada à intensidade emocional está a baixa tolerância à frustração. Tarefas que demandam esforço mental prolongado, imprevistos ou a percepção de incapacidade podem desencadear frustração rapidamente. Essa baixa tolerância pode se manifestar na desistência prematura de atividades, irritabilidade ou reações impulsivas diante de obstáculos (Barkley, 2015).

A busca por novidade e estimulação é outra característica frequentemente observada. O sistema nervoso de indivíduos com TDAH muitas vezes busca estímulos para manter o foco e evitar o tédio (Robbins, 2012). Isso pode se traduzir em um interesse por novas experiências, hobbies e projetos, embora a dificuldade em sustentar a atenção possa levar ao abandono dessas atividades assim que a novidade diminui (Brown, 2017). Essa busca por estimulação também pode se expressar em comportamentos impulsivos e na dificuldade em lidar com rotinas monótonas (Ratey & Hallowell, 2010).

O fenômeno da hiperfocalização representa um aspecto complexo do TDAH. Apesar da dificuldade em manter a atenção em tarefas consideradas desinteressantes, indivíduos com TDAH podem concentrar-se intensamente em algo que lhes desperta genuíno interesse, a ponto de negligenciar o ambiente ao redor (Hallowell & Ratey, 2010). Embora essa capacidade de hiperfoco possa ser produtiva em certos contextos, também pode levar a desequilíbrios e à negligência de outras responsabilidades (Brown, 2017).

A dificuldade em organização e planejamento se estende além da gestão de tarefas práticas. Pode afetar a organização do pensamento, a priorização de atividades e a capacidade de antecipar e planejar o futuro (Barkley, 2015). Isso pode gerar uma sensação constante de sobrecarga, dificuldade em cumprir prazos e uma propensão à procrastinação (Ratey & Hallowell, 2010).

A sensibilidade à crítica e à rejeição é uma experiência comum. Histórico de desafios acadêmicos, sociais ou profissionais pode ter contribuído para uma maior vulnerabilidade a feedbacks negativos e a um receio de falhar ou ser julgado (Miklowitz, 2007). Essa sensibilidade pode impactar a autoestima e levar a comportamentos de evitação ou defensividade (Brown, 2017).

Apesar dos desafios, muitas pessoas com TDAH demonstram criatividade e um pensamento divergente. A mente que divaga e a dificuldade em seguir um fluxo de pensamento linear podem, ocasionalmente, conduzir a insights inovadores e soluções originais para problemas (Ratey & Hallowell, 2010). Sua energia e entusiasmo, quando direcionados de maneira eficaz, podem ser inspiradores (Hallowell & Ratey, 2010).

É crucial enfatizar que essas características de personalidade não são falhas de caráter ou escolhas conscientes. Elas são, em grande parte, resultantes das diferenças neurobiológicas subjacentes ao TDAH (Barkley, 2015). A compreensão dessas características é fundamental para que indivíduos com TDAH possam desenvolver estratégias de enfrentamento adaptativas, construir relacionamentos mais saudáveis e alcançar seu potencial pleno (Brown, 2017). Adicionalmente, a conscientização sobre essas nuances da personalidade no TDAH é essencial para fomentar a empatia e o apoio por parte de familiares, amigos, educadores e profissionais de saúde. O reconhecimento e a aceitação dessas características podem ser um passo significativo em direção a uma vida mais satisfatória e bem-sucedida para pessoas com TDAH (Ratey & Hallowell, 2010).

Referências Bibliográficas:

Antshel, K. M., Faraone, S. V., Stallone, K., Naveed, S., & Casey, B. J. (2012). Emotion dysregulation in children with ADHD. Journal of Attention Disorders, 16(5), 403-412.

Barkley, R. A. (2015). Attention-deficit hyperactivity disorder: A handbook for diagnosis and treatment. Guilford Press.

Brown, T. E. (2017). Outside the box: Rethinking ADD/ADHD in children and adults. American Psychiatric Association Publishing.

Hallowell, E. M., & Ratey, J. J. (2010). Driven to distraction (Revised): Recognizing and coping with attention deficit disorder. Pantheon.

Miklowitz, D. J. (2007). Bipolar disorder: A family-focused treatment approach. Guilford Press.

J. J., & Hallowell, E. M. (2010). Delivered from distraction: Getting the most out of life with attention deficit disorder. Ballantine Books.

Robbins, T. W. (2012). Attention deficit hyperactivity disorder: a neurobiological and genetic perspective. Current Opinion in Neurobiology, 22(5), 858-865.

Ricardo Santana

Neuropsicólogo

CRP15 0180

(82)99988.3001 

Maceió/AL


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