ACT - Terapia de Aceitação e Compromisso
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT, pronunciada como a palavra "ato" em inglês) surge como uma abordagem psicoterapêutica comportamental e contextual inovadora, que tem ganhado crescente reconhecimento e aplicação em diversos contextos clínicos e não clínicos. Desenvolvida por Steven C. Hayes, Kelly G. Wilson e Kirk D. Strosahl no final da década de 1980, a ACT se diferencia de modelos tradicionais ao não buscar a eliminação dos pensamentos e sentimentos negativos, mas sim fomentar a aceitação psicológica desses eventos internos, concomitantemente ao engajamento em ações alinhadas aos valores pessoais do indivíduo.
Em sua essência, a ACT se fundamenta na Teoria das Molduras Relacionais (RFT), uma teoria da linguagem e cognição humana que explica como aprendemos a relacionar eventos de maneiras complexas e arbitrárias, o que pode levar ao sofrimento psicológico. Como Hayes, Strosahl e Wilson (2012) destacam em sua obra seminal "Acceptance and Commitment Therapy: The Process and Practice", a linguagem humana, embora poderosa, pode nos aprisionar em padrões de pensamento rígidos e autocríticos, gerando evitação experiencial e limitando a vivência de uma vida rica e significativa.
A evitação experiencial, definida como tentativas de evitar ou suprimir pensamentos, sentimentos, memórias e sensações físicas indesejadas (Hayes, Wilson, Gifford, Follette, & Strosahl, 1996), é vista na ACT como um processo central na manutenção do sofrimento psicológico. Paradoxalmente, quanto mais lutamos contra nossas experiências internas dolorosas, mais as fortalecemos e as tornamos o foco de nossa atenção, desviando-nos de ações que realmente importam para nós.
Em contrapartida à evitação, a ACT propõe a aceitação psicológica, que não se confunde com resignação ou aprovação. Aceitar, nesse contexto, significa permitir a presença de pensamentos e sentimentos desagradáveis sem lutar contra eles, sem julgá-los ou tentar modificá-los diretamente. Como Harris (2008) explica em seu livro "The Happiness Trap", a aceitação envolve "abrir-se para a experiência do momento presente, por mais dolorosa que seja, sem resistência". Essa postura de abertura e permissão cria espaço para que o indivíduo possa direcionar sua energia para ações construtivas e alinhadas com seus valores.
Os valores, na ACT, desempenham um papel crucial como bússola para a ação. Eles representam qualidades de ação escolhidas conscientemente que dão sentido e direção à vida. Diferentemente de metas, que são pontos específicos a serem alcançados, os valores são princípios que guiam o comportamento ao longo do tempo (Hayes, Luoma, Bond, Masuda, & Lillis, 2006). Ao identificar e clarificar seus valores fundamentais (como compaixão, criatividade, conexão, honestidade), o indivíduo pode se comprometer com ações que os manifestem em sua vida diária, mesmo na presença de pensamentos e sentimentos difíceis.
Para facilitar os processos de aceitação e compromisso, a ACT utiliza seis processos centrais inter-relacionados, frequentemente representados pelo hexágono da flexibilidade psicológica:
Aceitação: Abertura e permissão para a experiência de pensamentos e sentimentos, sem luta ou evitação.
Desfusão Cognitiva: Tomar distância dos pensamentos, reconhecendo-os como eventos mentais transitórios e não como verdades absolutas ou ordens a serem seguidas.
Eu como Contexto: Adotar uma perspectiva de "eu observador", um senso de self transcendente que permanece constante apesar das mudanças nos conteúdos da experiência.
Contato com o Momento Presente: Focar a atenção no aqui e agora com abertura, interesse e receptividade.
Valores: Clarificação e conexão com os princípios que dão significado e direção à vida.
Ação Comprometida: Engajamento em comportamentos concretos alinhados com os valores, mesmo diante de obstáculos internos e externos.
A interação dinâmica desses seis processos visa promover a flexibilidade psicológica, definida como a capacidade de estar em contato com o momento presente e, dependendo do que a situação exige, persistir ou mudar comportamentos em serviço dos valores escolhidos (Hayes, Strosahl, & Wilson, 1999). Indivíduos com alta flexibilidade psicológica conseguem navegar pelas dificuldades da vida com maior resiliência e engajamento.
A ACT tem demonstrado eficácia em uma ampla gama de problemas psicológicos, incluindo depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), dor crônica, transtornos alimentares, psicose e dependência química (Hayes, Pistorello, & Levin, 2012). Além disso, seus princípios têm sido aplicados em contextos não clínicos, como no ambiente de trabalho para aumentar a produtividade e o bem-estar, na educação para promover a aprendizagem e a resiliência, e no esporte para melhorar o desempenho e a saúde mental dos atletas.
Em suma, a Terapia de Aceitação e Compromisso oferece uma abordagem promissora para o sofrimento humano, focando na aceitação da experiência interna e no compromisso com ações valorizadas. Ao invés de lutar contra pensamentos e sentimentos indesejados, a ACT nos convida a reconhecê-los como parte da condição humana e a direcionar nossa energia para construir uma vida rica e significativa, guiada por nossos valores mais profundos.
Referências Bibliográficas:
Hayes, S. C., Luoma, J. B., Bond, F. W., Masuda, A., & Lillis, J. (2006). Acceptance and Commitment Therapy: Model, processes, and outcomes. Behaviour Research and Therapy, 44(1), 1-25.
Hayes, S. C., Pistorello, J., & Levin, M. E. (2012). Acceptance and Commitment Therapy as a unified model of behavior change. Psychological Treatment and Research, 1(1), 1-27.
Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (1999). Acceptance and Commitment Therapy: An experiential approach to behavior change. Guilford Press.
Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (2012). Acceptance and Commitment Therapy: The process and practice (2nd ed.). Guilford Press.
Hayes, S. C., Wilson, K. G., Gifford, E. V., Follette, V. M., & Strosahl, K. (1996). Experiential avoidance and behavioral disorders: A functional dimensional approach to diagnosis and treatment. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 64(6), 1152-1168.
Harris, R. (2008). The happiness trap: How to stop struggling and start living a rich, full life. Exisle Publishing.
Ricardo Santana
Neuropsicólogo
CRP15 0180
Maceió/AL
Deixe sua avaliação:
Conheça nosso site:
https://psiricardosantana.com.br/
Instagram:
https://www.instagram.com/ricardosantanatdah?igsh=MTI4cW1ldzlxdmg0Yw%3D%3D&utm_source=qr
Comentários
Postar um comentário