Borderline

Resumo

O transtorno de personalidade borderline (TPB) é caracterizado por um padrão persistente de instabilidade nas relações interpessoais, autoimagem e afetos, além de impulsividade acentuada. O presente artigo tem como objetivo apresentar o TPB, abordando aspectos clínicos, etiológicos e terapêuticos. Destaca-se a importância do diagnóstico precoce e do tratamento interdisciplinar para reduzir o impacto funcional do transtorno.

Palavras-chave: transtorno de personalidade borderline; psicopatologia; psicoterapia; saúde mental.

Introdução

O transtorno de personalidade borderline (TPB) figura entre os transtornos de personalidade mais prevalentes e clinicamente desafiadores na prática psiquiátrica e psicológica. A condição caracteriza-se por padrão de instabilidade nas relações interpessoais, na autoimagem e na afetividade, além de impulsividade marcante (Associação Americana de Psiquiatria, 2014). No Brasil, estudos apontam para a alta prevalência do TPB nos serviços de saúde mental, especialmente em contextos de emergência psiquiátrica (Dalgalarrondo, 2019).

Características clínicas

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), traduzido para o português, o TPB envolve (Associação Americana de Psiquiatria, 2014):

  1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado;
  2. Relacionamentos interpessoais intensos e instáveis;
  3. Perturbação de identidade com autoimagem marcadamente instável;
  4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (gastos, sexo, abuso de substâncias, direção imprudente, compulsão alimentar);
  5. Comportamento, gestos ou ameaças suicidas recorrentes, ou comportamento automutilante;
  6. Instabilidade afetiva devido a reatividade acentuada do humor;
  7. Sentimentos crônicos de vazio;
  8. Raiva intensa ou dificuldade em controlá-la;
  9. Ideação paranoide transitória ou sintomas dissociativos relacionados ao estresse.

Etiologia

O TPB possui origem multifatorial. De acordo com Dalgalarrondo (2019), há forte associação entre o transtorno e vivências de abuso físico, sexual e emocional na infância, além de negligência parental. Fatores genéticos também exercem influência, conforme estudos de gêmeos apontam (Amaral & Guimarães, 2011).

Do ponto de vista neurobiológico, há evidências de disfunção nos circuitos corticolímbicos, o que contribui para dificuldades na regulação emocional e controle dos impulsos (Barros & Tavares, 2009).

Comorbidades

O TPB frequentemente coexiste com outros transtornos mentais, incluindo transtornos depressivos, transtornos de ansiedade, abuso de substâncias e transtornos alimentares (Amaral & Guimarães, 2011). Essa alta comorbidade agrava o prognóstico e dificulta o manejo clínico.

Tratamento

A intervenção no TPB deve ser multidisciplinar. No Brasil, destaca-se a implementação de terapias psicossociais, com ênfase na Terapia Comportamental Dialética (DBT), reconhecida como padrão-ouro no tratamento (Linehan, 2010, versão brasileira). A Terapia Baseada em Mentalização (MBT) e a Terapia Focada no Esquema (TFE) também apresentam bons resultados (Amaral & Guimarães, 2011).

Embora não existam medicamentos específicos para o TPB, o uso de fármacos como antidepressivos e estabilizadores do humor pode ser útil no manejo de sintomas-alvo e comorbidades (Dalgalarrondo, 2019).

Impactos sociais e funcionais

Pacientes com TPB apresentam significativa disfunção no ambiente social, acadêmico e ocupacional. O risco de suicídio ao longo da vida pode chegar a 10%, o que reforça a necessidade de acompanhamento contínuo e especializado (Associação Americana de Psiquiatria, 2014; Barros & Tavares, 2009).

Considerações finais

O transtorno de personalidade borderline exige abordagens clínicas integradas e sensíveis às necessidades específicas dos pacientes. O investimento em capacitação de profissionais e em políticas públicas que garantam o acesso ao tratamento são essenciais para minimizar o impacto do transtorno na vida dos indivíduos e de suas famílias.

Referências

Amaral, C. E. M., & Guimarães, L. S. P. (2011). Transtornos de personalidade: Atualidades e perspectivas. Porto Alegre: Artmed.

Associação Americana de Psiquiatria. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 (5ª ed.). Porto Alegre: Artmed.

Barros, D. M., & Tavares, H. (2009). Bases neurobiológicas dos transtornos de personalidade. In M. H. A. de Souza & H. Tavares (Eds.), Transtornos de personalidade (pp. 27-44). Porto Alegre: Artmed.

Dalgalarrondo, P. (2019). Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais (3ª ed.). Porto Alegre: Artmed.

Linehan, M. M. (2010). Terapia comportamental dialética: Manual de tratamento para transtorno de personalidade borderline (versão brasileira). Porto Alegre: Artmed.

Ricardo Santana, Neuropsicólogo, CRP15 0180, (82)99988-3001, Maceió/AL

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