Tipos de Atenção
A atenção é um dos pilares da cognição humana, servindo como um filtro essencial que nos permite selecionar e processar as informações relevantes em meio a um mundo de estímulos. Ela não é um processo unitário, mas sim um conjunto complexo de mecanismos que trabalham em conjunto para nos guiar em nossas interações diárias. Compreender os diferentes tipos de atenção é fundamental para desvendar como nosso cérebro funciona e como podemos otimizar nosso desempenho em diversas tarefas.
Diversos autores e pesquisadores se debruçaram sobre esse tema, classificando a atenção de maneiras variadas. Uma das classificações mais amplamente aceitas é a que divide a atenção em três categorias principais: atenção seletiva, atenção dividida e atenção sustentada.
Atenção seletiva
A atenção seletiva é a capacidade de focar em um estímulo específico enquanto ignoramos outros. É o que nos permite, por exemplo, manter uma conversa em um ambiente barulhento como uma festa. O cérebro, nesse caso, filtra o ruído de fundo e direciona os recursos cognitivos para o som da voz da pessoa com quem estamos falando. Um estudo clássico sobre o tema é o teste de audição dicótica, popularizado pelo trabalho de Donald Broadbent. Nele, os participantes ouvem mensagens diferentes em cada ouvido e são instruídos a prestar atenção em apenas uma delas. O resultado mostra que a maioria das pessoas tem dificuldade em lembrar qualquer coisa sobre a mensagem que foi ignorada, o que ilustra o poder da atenção seletiva.
Segundo D. C. Souza, em seu livro Atenção e cognição (2018), a atenção seletiva é um processo ativo que envolve a inibição de estímulos distratores. Ele discute como "o cérebro não é apenas um receptor passivo de informações, mas um gestor ativo que decide o que é relevante e o que não é." (Souza, 2018, p. 45). Essa capacidade é crucial para a aprendizagem e para a execução de tarefas que exigem foco, como a leitura de um livro ou a resolução de um problema matemático.
Atenção dividida
Ao contrário da atenção seletiva, a atenção dividida é a capacidade de processar simultaneamente duas ou mais tarefas. É o que popularmente chamamos de "multitarefa". No entanto, a neurociência moderna e a psicologia cognitiva mostram que nosso cérebro não executa duas tarefas de alto nível de forma verdadeiramente simultânea. Em vez disso, ele alterna rapidamente entre elas, um processo conhecido como "troca de tarefas". Por exemplo, ao dirigir e ouvir rádio, o cérebro alterna a atenção entre a estrada e a música, o que pode comprometer a segurança.
Daniel Goleman, em seu aclamado livro Foco: A atenção e seus benefícios para uma vida plena (2014), traduzido e publicado no Brasil, aborda a atenção dividida sob a perspectiva da neurociência. Goleman argumenta que a prática de "multitarefa" pode ser enganosa e, na realidade, reduz a eficiência e a qualidade do nosso trabalho. Ele afirma que "a atenção dividida não é tanto a divisão de um recurso, mas sim a rápida alternância entre diferentes focos, cada um com um custo cognitivo" (Goleman, 2014, p. 112). Isso reforça a ideia de que, embora possamos realizar várias coisas ao mesmo tempo, nossa performance em cada uma delas é geralmente inferior a quando nos dedicamos a uma única tarefa.
Atenção sustentada
A atenção sustentada, também conhecida como vigilância, é a capacidade de manter o foco em uma única tarefa por um longo período de tempo. Essa forma de atenção é fundamental para atividades que exigem monitoramento contínuo, como um guarda de segurança que observa as câmeras ou um estudante que se prepara para uma prova por horas a fio. A fadiga e a monotonia são os principais inimigos da atenção sustentada.
O livro Psicologia da atenção (2015), de J. P. da Silva, discute a importância da atenção sustentada em contextos de trabalho e estudo. Silva (2015) destaca que a capacidade de sustentar o foco é um indicador de resiliência cognitiva. "A diminuição da atenção ao longo do tempo é um fenômeno natural, mas pode ser minimizada com pausas estratégicas e técnicas de manejo do estresse" (Silva, 2015, p. 89). Isso ressalta a importância de entender a atenção não como um recurso ilimitado, mas como algo que precisa ser gerenciado e treinado.
Outras classificações e abordagens
Além das três categorias principais, a neuropsicologia e a psicologia cognitiva também propõem outras distinções importantes para uma compreensão mais completa da atenção:
Atenção focalizada: é a habilidade mais básica da atenção. Refere-se à capacidade de responder a estímulos específicos. É o primeiro passo para a atenção seletiva.
Atenção alternada: a capacidade de mudar o foco de atenção entre duas ou mais tarefas que exigem diferentes conjuntos de respostas. É uma versão mais complexa da atenção dividida, onde a pessoa precisa alternar ativamente entre as demandas de cada tarefa, como alternar entre preparar a massa e o molho de uma receita.
Atenção espacial: a capacidade de focar em uma localização específica no espaço, essencial para a navegação e para a interação com o ambiente.
A atenção, em suas múltiplas formas, é um recurso valioso e finito. A compreensão de seus mecanismos e limitações, conforme explorada por autores como Goleman, Souza e Silva, é essencial para otimizar o aprendizado, a produtividade e a segurança em nossas vidas. Em um mundo cada vez mais sobrecarregado de informações e distrações, cultivar a atenção seletiva, sustentada e flexível é um desafio crucial e uma habilidade a ser desenvolvida.
Bibliografia
Goleman, D. (2014). Foco: A atenção e seus benefícios para uma vida plena. Editora Objetiva.
Silva, J. P. (2015). Psicologia da atenção. Editora Vozes.
Souza, D. C. (2018). Atenção e cognição. Editora Zahar.
Ricardo Santana, Neuropsicólogo, CRP15 0180, (82)99988-3001, Maceió/AL #atenção
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