TDAH e TOC
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): Uma Revisão Científica
Abstract
Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) and Obsessive-Compulsive Disorder (OCD) are two common psychiatric disorders that often coexist, but with different clinical presentations and neurobiological bases. This article aims to review the scientific literature on the comorbidity between ADHD and OCD, highlighting the symptomatic overlaps, neurobiological hypotheses, diagnostic and therapeutic implications, as well as the difficulties associated with the clinical management of patients with both disorders. The review concludes that, although ADHD and OCD share some characteristics, such as impulsivity and difficulty in thought control, their therapeutic approaches are distinct and complex when they coexist.
Resumo
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) são dois distúrbios psiquiátricos comuns, muitas vezes coexistentes, mas com diferentes apresentações clínicas e bases neurobiológicas. Este artigo visa revisar a literatura científica sobre a comorbidade entre TDAH e TOC, destacando as sobreposições sintomáticas, as hipóteses neurobiológicas, as implicações diagnósticas e terapêuticas, bem como as dificuldades associadas ao manejo clínico de pacientes que apresentam ambos os distúrbios. A revisão conclui que, embora TDAH e TOC compartilhem algumas características, como impulsividade e dificuldade de controle de pensamento, suas abordagens terapêuticas são distintas e complexas quando coexistem.
Introdução
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. A prevalência global do TDAH em crianças é estimada em 5% e em adultos entre 2,5% a 3,4%, com impactos significativos em aspectos acadêmicos, profissionais e sociais.
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), por outro lado, é definido pela presença de obsessões (pensamentos, impulsos ou imagens intrusivas) e/ou compulsões (comportamentos repetitivos ou atos mentais realizados para neutralizar as obsessões). A prevalência do TOC é estimada em cerca de 2% na população em geral. Ambos os transtornos podem começar na infância, mas seguem cursos distintos na vida adulta.
Embora sejam frequentemente vistos como distúrbios independentes, há um crescente corpo de evidências que sugere que TDAH e TOC podem coexistir em uma proporção considerável de pacientes. Essa coexistência cria desafios diagnósticos e terapêuticos devido às diferenças de tratamento entre os dois transtornos.
Sobreposição Sintomática
TDAH e TOC compartilham alguns sintomas, mas têm manifestações distintas que podem confundir o diagnóstico. No TDAH, a desatenção geralmente resulta de dificuldade em manter o foco, enquanto no TOC, pode ser decorrente da intrusão de obsessões. Da mesma forma, a impulsividade no TDAH se refere à dificuldade em retardar respostas, enquanto no TOC pode ser vista em impulsos de realizar compulsões para aliviar o desconforto associado às obsessões.
Em crianças, essa sobreposição pode dificultar a identificação precisa de cada transtorno, uma vez que ambas as condições afetam o comportamento diário e o desempenho acadêmico.
Neurobiologia de TDAH e TOC
Embora TDAH e TOC compartilhem algumas características comportamentais, suas bases neurobiológicas são distintas. O TDAH está associado a alterações na neurotransmissão dopaminérgica e noradrenérgica, particularmente em regiões pré-frontais do cérebro, responsáveis pelo controle de impulsos, atenção e planejamento. Já o TOC tem sido relacionado a disfunções nos circuitos cortico-estriado-talâmico-cortical, com foco em alterações na serotonina.
Estudos de neuroimagem funcional indicam que o TDAH está associado a uma hipofunção de áreas pré-frontais, enquanto o TOC apresenta uma hiperatividade dessas regiões, sugerindo um perfil neurofuncional oposto. No entanto, pacientes com comorbidade TDAH-TOC podem apresentar padrões únicos, com implicações ainda pouco compreendidas na literatura científica.
Comorbidade entre TDAH e TOC
A coexistência de TDAH e TOC apresenta desafios únicos. Estima-se que entre 20% a 30% dos pacientes com TOC também tenham sintomas de TDAH. Esses pacientes frequentemente apresentam maior comprometimento funcional, maior resistência ao tratamento e um curso mais crônico do que aqueles com apenas um dos transtornos.
Os mecanismos neurobiológicos que explicam essa comorbidade ainda não são totalmente compreendidos, mas hipóteses sugerem a possibilidade de sobreposição genética, uma vez que ambos os transtornos têm fortes componentes hereditários. Além disso, alterações em circuitos neuronais compartilhados, como o córtex pré-frontal, podem contribuir para essa sobreposição.
Implicações Diagnósticas
A comorbidade entre TDAH e TOC pode ser subdiagnosticada, especialmente em pacientes cujos sintomas de um transtorno mascaram os de outro. Em muitos casos, a presença de sintomas de TDAH pode ser interpretada erroneamente como falhas de controle cognitivo associadas ao TOC, ou vice-versa. A diferenciação clara entre os dois transtornos é essencial para um tratamento adequado.
Critérios diagnósticos mais rigorosos e uma avaliação clínica detalhada são necessários para distinguir TDAH de TOC em pacientes que apresentam características de ambos. O uso de escalas específicas para TDAH e TOC, bem como entrevistas clínicas estruturadas, pode ajudar a identificar melhor os sintomas predominantes.
Tratamento e Manejo Clínico
O manejo clínico de pacientes com TDAH e TOC exige uma abordagem integrada e cuidadosa. Para o TDAH, o tratamento padrão envolve o uso de psicoestimulantes (como metilfenidato) e/ou medicamentos não estimulantes (como a atomoxetina), que aumentam a neurotransmissão dopaminérgica e noradrenérgica. Já o TOC responde melhor aos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), como fluoxetina, sertralina e paroxetina.
No entanto, o tratamento de pacientes com ambos os transtornos pode ser complicado, uma vez que psicoestimulantes podem, em alguns casos, exacerbar os sintomas de TOC, enquanto os ISRS podem não tratar adequadamente os sintomas de TDAH. A combinação de tratamentos farmacológicos pode ser necessária, mas deve ser feita com cautela para evitar a exacerbação de sintomas de um dos transtornos.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem terapêutica eficaz tanto para o TDAH quanto para o TOC, especialmente na modulação dos sintomas obsessivos e na melhoria da função executiva. A integração da TCC com intervenções farmacológicas parece ser a abordagem mais eficaz para pacientes com comorbidade.
Conclusão
A coexistência de TDAH e TOC apresenta desafios diagnósticos e terapêuticos significativos. Embora esses transtornos compartilhem alguns sintomas, suas bases neurobiológicas e implicações clínicas são distintas, exigindo uma abordagem de tratamento cuidadosa e individualizada. Pesquisas adicionais são necessárias para elucidar melhor os mecanismos subjacentes à comorbidade e desenvolver estratégias terapêuticas mais eficazes.
Referências
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- Wilens, T. E., & Spencer, T. J. (2010). Understanding Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder from Childhood to. Postgraduate Medicine, 122(5), 97-109.
Ricardo Santana, Neuropsicólogo, CRP15 0190, (82)99988.3001, Maceió/AL
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