Psico-Oncologia

A psico-oncologia é uma subdisciplina da psicologia da saúde que atua na interface com a oncologia, dedicada ao estudo e intervenção nos aspectos psicológicos, sociais e comportamentais relacionados ao câncer (Gimenes, 1994). Ela tem como missão oferecer suporte integral que abranja o paciente oncológico, sua família e os cuidadores, promovendo a qualidade de vida e o enfrentamento das adversidades impostas pela doença e pelos tratamentos oncológicos (Bueno Neme, 2010; Caron et al., 2023).

O conceito fundamental da psico-oncologia reconhece que o câncer, além do impacto físico, acarreta elevados níveis de sofrimento emocional, demandando avaliação contínua e intervenções psicológicas específicas para prevenir e manejar sintomas como ansiedade, depressão, distresse, e dificuldades no ajuste psicossocial (Caron et al., 2023; Stanton et al., 2007). Para tanto, a psico-oncologia utiliza abordagens diversas incluindo, mas não se limitando à terapia cognitivo-comportamental, técnicas de manejo de estresse, intervenções psicossociais em grupo, e suporte para questões relacionadas à imagem corporal, sexualidade, além do processo de luto nas diferentes fases da doença (Holland et al., 2010; Caron et al., 2023).

Para pacientes com câncer, as recomendações técnicas incluem o encaminhamento para avaliação psicológica logo após o diagnóstico e em todas as fases do tratamento, com intervenções que promovam o fortalecimento dos recursos internos, a resiliência e a adaptação contínua às mudanças advindas da doença e seus cuidados (Bueno Neme, 2010; Caron et al., 2023). É imprescindível que o paciente receba escuta ativa, acolhimento empático e estratégias terapêuticas que respeitem sua singularidade, valores pessoais, e contexto sociocultural.

Quanto aos familiares e cuidadores, a psico-oncologia também direciona estratégias objetivas para o manejo do estresse e sobrecarga emocional, considerando que este grupo é frequentemente impactado emocionalmente e pode desenvolver sofrimento psíquico significativo (Caron et al., 2023; Veit & Carvalho, 2010). O acompanhamento psicoterapêutico e grupos de apoio são ferramentas recomendadas com vistas a promover a coesão familiar, o autocuidado dos cuidadores, e a manutenção da saúde mental de todos os envolvidos (Caron et al., 2023).

A prática psico-oncológica exige uma atuação interdisciplinar, pautada numa integração harmônica entre o aparato tecnológico do tratamento oncológico e o cuidado humanizado, visando preservar a dignidade e a qualidade de vida na trajetória do câncer (Bueno Neme, 2010; Gimenes, 1994). A psico-oncologia no Brasil tem avançado significativamente com a criação de protocolos baseados em evidências, reconhecimento profissional e formação específica, consolidando-se como elemento imprescindível no cuidado integral do paciente oncológico e sua rede de suporte.

Referências:

Bueno Neme, C. M. (2010). Psico-oncologia: abordagem psicanalítica, fenomenológica e sistêmica. São Paulo: Summus.

Caron, F. M. M., Orico Vilaça, A. P., & Oliveira, G. Z. (2023). Psico-oncologia: teoria e prática. Sinopsys Editora.

Gimenes, F. (1994). Definição e campo de atuação da Psico-Oncologia.

Veit, M. T. & Carvalho, V. A. (2010). Psico-oncologia: um novo olhar para o câncer. O Mundo da Saúde, 34(4), 526-530.

Stanton, A. L. et al. (2007). Estratégias de enfrentamento em pacientes com câncer.

Holland, J. C., et al. (2010). Psicologia oncológica: teoria e prática.

Fontes

Psico-Oncologia - 1ª Edição - Teoria e prática - Sinopsys Editora https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/psico-oncologia-1-ordf-edicao-teoria-e-pratica-manole-4213

Psico-Oncologia: Um Guia para Entender e Atuar na Interface entre ... https://institutosuassuna.com.br/blog/psico-oncologia-um-guia-para-entender-e-atuar-na-interface-entre-psicologia-e-oncologia/

Psico-oncologia - Grupo Editorial Summus https://www.gruposummus.com.br/livro/psico-oncologia/

Psico-oncologia: A atuação do Psicólogo junto aos familiares e ao ... https://editora.univassouras.edu.br/index.php/RM/article/view/2259

Livro Temas em Psico-Oncologia - Livraria Florence https://www.livrariaflorence.com.br/livro-temas-em-psico-oncologia

Psico-oncologia: história, características e desafios - SciELO https://www.scielo.br/j/pusp/a/C9zDcZyWhfKMLqWykFhVfqQ/

Psico-oncologia: caminhos de cuidado - Biblioteca Virtual https://www.bvirtual.com.br/NossoAcervo/Publicacao/177923

Intervenções Psicológicas na Psico-Oncologia - Pepsic http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-32692021000100005

Cadernos de Psicologia | INCA - Instituto Nacional de Câncer https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/cadernos-de-psicologia

Psico-Oncologia: um novo olhar para o câncer - O Mundo da Saúde https://revistamundodasaude.emnuvens.com.br/mundodasaude/article/download/596/536/1064

Ricardo Santana, Psico-Oncologista, CRP15 0180, (82)99988-3001, Maceió/AL

#cancer #câncer #psicologia #psicooncologia #maceió

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O Vineland Adaptive Behavior Scales – Third Edition (Vineland-3): Estudos de Validade e Aplicações

Imagem
Introdução O Vineland Adaptive Behavior Scales – Third Edition (Vineland-3) é um dos instrumentos mais amplamente utilizados para avaliar o comportamento adaptativo, compreendendo as habilidades que os indivíduos usam em suas atividades diárias para atender às demandas pessoais e sociais. Desenvolvido originalmente por Edgar Doll em 1935, o Vineland evoluiu ao longo do tempo, passando por revisões significativas, resultando na terceira edição publicada em 2016 (Sparrow, Cicchetti, & Saulnier, 2016). O Vineland-3 é utilizado em diversas áreas, como educação especial, psicologia, psiquiatria e pesquisa, sendo fundamental na avaliação de indivíduos com condições como Transtorno do Espectro Autista (TEA), deficiência intelectual e outras dificuldades de desenvolvimento. The Vineland Adaptive Behavior Scales – Third Edition (Vineland-3) is one of the most widely used instruments to assess adaptive behavior, comprising the skills that individuals use in their daily activities to meet per...
Leia mais

Camisa de força

Imagem
A camisa de força, um dispositivo de contenção histórico, evoca imagens de hospícios e tratamentos psiquiátricos ultrapassados. No entanto, sua história e uso são mais complexos do que a percepção popular. Origens e Evolução: Século XVIII: Acredita-se que a camisa de força tenha sido inventada no final do século XVIII, na França, como uma alternativa mais humana aos métodos de contenção física usados em pacientes psiquiátricos. Século XIX: O uso da camisa de força se popularizou em hospitais psiquiátricos em todo o mundo. Era vista como uma forma de controlar pacientes agitados ou violentos, evitando que se machucassem ou machucassem outros. Século XX: Com o avanço da psiquiatria e o desenvolvimento de medicamentos psicotrópicos, o uso da camisa de força diminuiu gradualmente. No entanto, ainda é utilizada em situações extremas, quando outras formas de contenção falham. Uso Atual: Embora menos comum, a camisa de força ainda é utilizada em alguns hospitais psiquiátricos e instituições d...
Leia mais

A relação entre altas habilidades e o Quociente de Inteligência (QI)

Imagem
A relação entre altas habilidades e o Quociente de Inteligência (QI) tem sido um tema bastante debatido ao longo de décadas. O QI, tradicionalmente, tem sido usado como uma medida padronizada para avaliar a capacidade intelectual de um indivíduo. Contudo, a ideia de que altas habilidades — ou superdotação — se resumem a um alto QI é vista como uma simplificação que não captura a complexidade do conceito. Embora haja uma clareza entre altas pontuações de QI e habilidades profissionais, essa relação não é suficiente para definir, entender ou abranger todas as facetas das altas habilidades. Historicamente, os primeiros testes de identificação de indivíduos superdotados focaram principalmente em altas pontuações em testes de QI. Lewis Terman, psicólogo pioneiro no estudo da superdotação, contribuiu para um estudo de longo prazo com crianças que apresentavam pontuações de QI superiores, geralmente acima de 130. A pesquisa de Terman ajudou a consolidar a associação entre superdotação e alta ...
Leia mais

Transtornos Mentais: Uma Visão Geral Baseada no DSM-5 e CID-11

Imagem
  Transtornos Mentais: Uma Visão Geral Baseada no DSM-5 e CID-11 Os transtornos mentais são condições que afetam o pensamento, o humor, o comportamento e a capacidade de funcionamento de um indivíduo. Eles podem variar em gravidade, desde sintomas leves e temporários até distúrbios graves e persistentes que afetam significativamente a vida diária. Tanto o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, quanto a Classificação Internacional de Doenças (CID-11), da Organização Mundial da Saúde (OMS), fornecem critérios diagnósticos amplamente aceitos para identificar e classificar esses transtornos. Principais Transtornos Mentais no DSM-5 e CID-11 1. Transtornos de Ansiedade Os transtornos de ansiedade incluem condições caracterizadas por medo ou preocupação excessiva e constante, afetando a funcionalidade diária. Entre os mais comuns estão: • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): Preocupação persistente...
Leia mais

Um plano de orientações terapêuticas para adultos com TDAH

Imagem
  Um plano de orientações terapêuticas para adultos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) deve ser individualizado, considerando as necessidades e desafios específicos de cada paciente. O tratamento do TDAH em adultos pode envolver uma combinação de intervenções farmacológicas, comportamentais e psicoeducacionais. Abaixo, elaborei um plano geral que pode ser ajustado conforme o caso. 1. Avaliação Inicial e Acompanhamento    - Objetivo: Avaliar o grau de comprometimento nas áreas de atenção, hiperatividade e impulsividade, além de identificar comorbidades (ansiedade, depressão, etc.).    - Instrumentos: Entrevista clínica, escalas de avaliação, questionários de autopercepção e, quando necessário, avaliação neuropsicológica.    - Frequência de acompanhamento: Consultas quinzenais ou mensais, ajustando de acordo com a resposta ao tratamento. 2. Intervenção Medicamentosa    - Psicoestimulantes: Medicamentos como metilfenida...
Leia mais

TDAH, superdotação e altas habilidades

Imagem
  Pacientes que possuem Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e, ao mesmo tempo, são identificados como superdotados ou com altas habilidades enfrentam um conjunto de desafios bastante únicos e, muitas vezes, complexos. Esses indivíduos, frequentemente descritos como “dupla excepcionalidade”, encontram-se em uma interseção em que suas habilidades intelectuais, que estão acima da média, coexistem com dificuldades significativas associadas ao TDAH. Essas dificuldades podem incluir desatenção, impulsividade e hiperatividade, características que, por si só, já podem representar um grande desafio no cotidiano dessas pessoas. Quando somadas ao fato de que são cognitivamente muito capazes, isso pode gerar situações complexas, tanto em termos de diagnóstico quanto de tratamento. Crianças e adultos superdotados geralmente têm um desempenho cognitivo que se destaca em relação a seus pares. Apresentam uma capacidade de aprendizagem rápida, uma curiosidade intelectual inata ...
Leia mais

Depressão e Ansiedade à Luz da CID-11

Imagem
A depressão e a ansiedade representam dois dos transtornos mentais mais prevalentes em todo o mundo, impactando significativamente a qualidade de vida, a funcionalidade e o bem-estar dos indivíduos. A Classificação Internacional de Doenças, 11ª Revisão (CID-11), publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), oferece uma estrutura diagnóstica atualizada e refinada para esses quadros clínicos, buscando maior precisão e utilidade para profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores de políticas. Este texto visa explorar a compreensão da depressão e da ansiedade sob a lente da CID-11, abordando seus critérios diagnósticos, nuances e a intrínseca relação entre ambos. A Depressão na CID-11: A CID-11 classifica os transtornos depressivos no capítulo "Transtornos Mentais, Comportamentais ou do Neurodesenvolvimento" sob o código 6A7. A nova classificação mantém a distinção entre episódios depressivos únicos e transtornos depressivos recorrentes, mas introduz algumas modificaç...
Leia mais

O que são crianças atípicas?

Imagem
  Crianças atípicas são aquelas que apresentam características de desenvolvimento, comportamento ou aprendizado que fogem ao que é considerado típico ou esperado para a sua faixa etária. Esse termo é amplo e engloba uma diversidade de condições que podem estar relacionadas a aspectos neurológicos, cognitivos, emocionais, físicos ou comportamentais. Entre as condições mais comuns associadas às crianças atípicas estão os transtornos do espectro autista (TEA), o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), as deficiências intelectuais, os transtornos de aprendizagem (como a dislexia) e algumas síndromes genéticas, como a síndrome de Down. O termo “atípico” tem ganhado espaço por ser mais inclusivo e menos estigmatizante, já que evita rotular a criança com base apenas em um diagnóstico ou condição específica. Ele reconhece que todas as crianças são únicas em suas formas de aprender, interagir e se desenvolver, mas que algumas podem enfrentar desafios adicionais que exigem ...
Leia mais

O Córtex Pré-Frontal: Estrutura, Função e Implicações Clínicas

Imagem
Resumo O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais prevalentes, caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Estudos indicam que indivíduos com TDAH possuem um risco significativamente aumentado de desenvolver comorbidades psiquiátricas ao longo da vida, incluindo transtornos de humor, ansiedade, transtornos por uso de substâncias e transtornos de personalidade. Este artigo revisa as evidências científicas sobre a relação entre o TDAH e o desenvolvimento de outras condições psiquiátricas, discutindo fatores neurobiológicos, ambientais e psicossociais que contribuem para essa vulnerabilidade. Introdução O TDAH é um transtorno neuropsiquiátrico com uma prevalência global estimada em 5% da população infantil e 2,5% da população adulta (American Psychiatric Association [APA], 2022). Embora seja diagnosticado principalmente na infância, seus sintomas persistem em muitos casos até a vida adulta, imp...
Leia mais

TDAH e disfunção proprioceptiva

Imagem
  O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e a disfunção proprioceptiva são condições que frequentemente coexistem e afetam significativamente a vida dos indivíduos. O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por sintomas persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que podem se manifestar em graus variados e prejudicar o desempenho acadêmico, profissional e social. Pessoas com TDAH frequentemente apresentam dificuldades em manter o foco, seguir instruções e concluir tarefas, além de exibirem comportamentos impulsivos e inquietação. A disfunção proprioceptiva, por outro lado, refere-se a problemas no processamento das informações sensoriais relacionadas à posição e movimento do corpo no espaço. A propriocepção é um sentido que nos permite perceber a localização, movimento e ação das partes do nosso corpo sem olhar diretamente para elas. Indivíduos com disfunção proprioceptiva podem ter dificuldades em coordenação motora, equilíbrio...
Leia mais